A Evolução do Yaoi: da Origem à ascensão do Boys Love (BL)

Nas últimas décadas, o universo dos mangás e animes conquistou o coração de milhões de fãs ao redor do mundo. Dentre os gêneros mais populares desse cenário, destaca-se o Yaoi, que ao longo do tempo, passou por uma notável transformação, tornando-se o Boys Love (BL) que hoje, conhecemos. Neste post, exploraremos a origem do Yaoi e sua evolução para o gênero Boys Love, demonstrando como as representações e abordagens se alteraram ao longo dos anos.

Origem do Yaoi

O termo “Yaoi” originou-se no Japão na década de 1970 e é uma abreviação de “yama nashi, ochi nashi, imi nashi”, que pode ser traduzido como “sem clímax, sem resolução, sem sentido”. Inicialmente, o Yaoi era uma forma de expressão artística e literária que retratava relações homoafetivas entre personagens masculinos, predominantemente dirigido a um público feminino. As primeiras obras do gênero eram doujinshis (fanfics) criados por fãs que exploravam relacionamentos amorosos entre personagens masculinos de mangás e animes populares da época.

A Primeira História Yaoi

O primeiro Yaoi publicado e conhecido é amplamente considerado como sendo “Kaze to Ki no Uta” (The Poem of Wind and Trees), uma obra escrita e ilustrada por Keiko Takemiya. A série foi serializada na revista “Shoujo Comic” da editora Shogakukan entre 1976 e 1984.

Keiko Takemiya

“Kaze to Ki no Uta” foi pioneiro ao retratar um romance homoafetivo entre dois protagonistas masculinos, Serge Battour e Gilbert Cocteau, em um ambiente escolar. A história abordava temas controversos e maduros, incluindo a descoberta da sexualidade e as lutas internas dos personagens em relação à sociedade conservadora da época. Essa obra revolucionária estabeleceu as bases para o desenvolvimento do gênero Yaoi e influenciou futuros mangakás a explorarem relações homoafetivas em suas obras.

“Kaze to Ki no Uta”

A contribuição de “Kaze to Ki no Uta” para o desenvolvimento do Boys Love foi significativa em vários aspectos:

  1. Representação Pioneira: A série quebrou tabus ao apresentar um romance homoafetivo de forma séria e complexa, em um período em que tais temáticas eram pouco discutidas e frequentemente estigmatizadas na mídia;

  2. Exploração de Temas LGBTQ+: Através dos protagonistas, a obra tratou de questões como a descoberta da sexualidade, identidade de gênero e aceitação de si mesmo, contribuindo para a representatividade da comunidade LGBTQ+.

  3. Início da Popularização do Yaoi: A publicação de “Kaze to Ki no Uta” ajudou a estabelecer o gênero Yaoi como uma forma válida de expressão artística, influenciando outros artistas a criar obras similares.

  4. Ampliação do Público Leitor: Ao apresentar uma narrativa envolvente e sensível, “Kaze to Ki no Uta” atraiu uma audiência diversificada e desafiou o estigma de que histórias Yaoi eram destinadas apenas a um público feminino.

Evolução para Boys Love

Com o tempo, o Yaoi passou por uma transformação significativa e, a partir da década de 1990, começou a ser conhecido como “Boys Love” ou “BL”. Essa mudança de terminologia refletiu uma mudança na forma como as histórias eram apresentadas e percebidas.

O Boys Love continuou a abordar as relações românticas e/ou sexuais entre homens, mas agora se direcionava a um público mais amplo, incluindo tanto mulheres quanto homens. As histórias evoluíram para oferecer enredos mais complexos, desenvolvimento de personagens mais profundos e tratamento sensível das questões LGBTQ+. Além disso, os estereótipos homofóbicos começaram a ser combatidos, e as narrativas ganharam espaço para explorar temas como aceitação, identidade de gênero e os desafios enfrentados pela comunidade LGBTQ+ no Japão e em outras culturas.

O Yaoi, que inicialmente surgiu como uma expressão artística destinada ao entretenimento do público feminino, transformou-se em Boys Love, um gênero que ultrapassou barreiras culturais e de gênero. Essa evolução permitiu que as histórias retratassem relacionamentos entre personagens masculinos de maneira mais complexa e realista, contribuindo para uma maior compreensão e aceitação das diversidades sexuais e de gênero. O cenário atual do Boys Love mostra que a representatividade e a sensibilidade nas narrativas continuam a evoluir, tornando-o um gênero significativo e respeitado na indústria dos mangás e animes.


Referências:

  1. Welker, J. (2011). Beautiful, Borrowed, and Bent: “Boys’ Love” as Girls’ Love in Shôjo Manga. Signs: Journal of Women in Culture and Society, 36(1), 1-25.
  2. Levi, A. (2009). In the Yaoi Future: The appropriation of queer gay men’s culture by contemporary fujoshi. Mechademia, 4(1), 271-286.
  3. Nagaike, K. (2003). Perverse Sexualities, Perverse Desires: Representations of Female Fantasies and Yaoi Manga as Pornography Directed at Women. U.S-Japan Women’s Journal, 25, 76-103.
  4. McLelland, M. (2000). Male homosexuality in modern Japan: Cultural myths and social realities. Routledge.
  5. Nagaike, K. (2009). Fantastic fanfictions: Yūsei Matsui’s Assassination Classroom, transmedia storytelling, and the promise of queer politics. Boys Love Manga and Beyond: History, Culture, and Community in Japan, 208-228.
  6. Thorn, M. (2004). Passionate friendship: The aesthetics of girls’ culture in Japan. University of Hawaii Press.

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