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"BOY MEETS MARIA": GÊNERO E SEXUALIDADE

'Boy meets Maria' é um mangá extremamente necessário. Em sua base, é um mangá BL, mas vai além disso, explorando a fluidez da sexualidade e gênero dos personagens. Vou falar um pouco sobre isso nesse post, analisando o que eu achei do mangá, principalmente do meu ponto de vista como pessoa trans não-binária.


Título: Boy meets Maria

Kanji: ボーイミーツマリア

Inglês: Boy meets Maria

Tipo: Mangá

Volumes: 1

Status: Finalizado

Publicação: 28 de Out/17 a 29 de Ago/18

Gênero: Boys' Love, Drama

Serialização: Canna

Autor(a): PEYO

Ilustrador(a): PEYO


Sinopse: Um garoto se junta ao clube de teatro da escola. Ele instantaneamente se apaixona por uma pessoa fascinante no palco apelidada de Maria. Ele confessa que a acha atraente, mas se engana. Maria não é uma garota!


 

Na história, Taiga sonha em se tornar um ator, então a primeira coisa que faz quando entra no ensino médio é juntar-se ao clube de teatro. Lá, conhece a bonita e enigmática Maria, e, imediatamente, apaixona-se por ela. Mas logo Taiga descobre que Maria, na verdade, é um menino chamado Arima. Apesar da surpresa inicial, Taiga não vê diferenças entre gostar de Maria ou de Arima. Ou seja, ele acaba se apaixonando por Arima independente da sua identidade/expressão de gênero.

Gostaria de falar um pouco sobre como a nossa criação dita muito como agimos, principalmente no quesito gênero. No nascimento, todos somos designados "meninos ou meninas" ao nascer, tendo como base nosso sexo biológico. Baseado nisso, teremos um tipo de criação, estímulos e formas de se comportar e agir. Claro que isso está mudando, mas ainda é algo muito presente na nossa sociedade cisheteronormativa.


No caso de pessoas trans, a nossa identidade de gênero é diferente da que nos foi designada ao nascer. Muitas vezes, acabamos demorando para entender a nossa identidade devido a forma como somos criados, sendo colocados dentro de "caixinhas" que dizem como devemos nos sentir e agir.


A gente passa muito tempo vivendo do jeito que nos foi imposto até descobrirmos que existe outras possibilidades.


Muito do drama e sofrimento do personagem Arima, além do abuso que sofreu, é consequência dessa falta de conexão completa com esse "feminino" que lhe foi imposto. Mas, ao mesmo tempo, é mostrado no mangá que ele não tem uma total conexão com seu lado masculino também. Arima diz que é menino para Taiga, tenta se impor, mas, ao mesmo tempo, algo o incomoda, assim como ser uma menina o incomoda.


Aqui entramos em uma identidade que está dentro da transsexualidade: a não-binaridade. Uma pessoa não-binária é trans, mas sua identidade foge do binário de feminino e masculino. Uma pessoa não binária não se identifica totalmente como homem ou totalmente como mulher. Isso é difícil e pode ser doloroso, ainda mais com as imposições de gênero que acontecem o tempo todo sobre nós.

Arima é assim! Tanto que Arima refere-se a Maria. É o mesmo nome, com letras embaralhadas. Acho que mostrando justamente essa mistura do feminino e masculino e retratando o não pertencimento total a um gênero em específico.


Muito do processo de cura que o personagem passa a ter ao decorrer do mangá é justamente através do fato dele aprender que não precisa se limitar a uma só identidade, mas, sim, explorá-las da forma como ele se sentir mais confortável. Não tem problema nenhum se ele quiser ser um pouco Maria e um pouco Arima. Ou nenhum dos dois também. E é legal ver que Taiga não se importa com isso, pois, independente de como Arima se expresse e/ou se identifique, Taiga gosta dele.


"Boys meets Maria" tem como grande foco o teatro, e não havia tema mais propício para ser usado como plano de fundo para explorar o gênero dentro da história. Por que, afinal, não seriam as construções de gênero dentro da sociedade uma grande encenação? Estamos sempre em um palco interpretando papéis, tentando nos encaixar dentro de um roteiro já redigido pelo que a sociedade espera de nós. Essa mangá é sobre transcender esses papéis e sobre se libertar das amarras que nos mantém presos e impedem que possamos nos expressar de forma mais livre e confortável.


O mangá de PEYO, pseudônimo de Kousei Eguchi, está em pré-venda no Brasil pela editora NewPOP:



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