"DARK HEAVEN": UM SOCO NO ESTÔMAGO DA SOCIEDADE
E aí, pessoal! Tudo em cima? Hoje trouxe pra vocês um manhwa de PESO que é um soco na boca do estômago da sociedade: "Dark Heaven", de Juns. Sempre vi as pessoas comentarem a respeito e mesmo assim posterguei a leitura, posterguei, posterguei… E quando finalmente li, me arrependi de ter adiado tanto! "Dark Heaven" mexe com qualquer um, portanto é preciso que você tenha um coração à prova de balas para mergulhar nessa leitura poderosíssima. Vai arriscar?

Ficha Técnica
Título: Dark Heaven
Hangul: 다크 헤븐
Tipo: Manhwa
Volumes: 6
Status: Finalizado
Publicação: 13 Fev/16 a 28 Out/17
Gênero: Ação, Drama, Musical
Serialização: Lezhin Comics
Autor (a): JUNS
Ilustrador (a): JUNS
"Dark Heaven" narra a história de Connor, um descendente de coreanos que reside no ocidente. Desde a infância ele sofre discriminação dos estudantes americanos e sente que não pertence a lugar nenhum, até que conhece Simon, um garoto loiro de olhos azulados que o salva dos valentões. A paixão pela música levou os dois rapazes a formarem uma banda chamada "Dark Heaven" em uma igreja abandonada, onde eles se tornaram amigos e gradualmente se transformaram em amantes, atravessando uma juventude doce e apaixonante, mas também marcada por erros.

Se você particularmente não é fã de flashbacks, pode ficar um tanto frustrado, pois boa parte de "Dark Heaven" é contada através de memórias. A história abre cortinas dois anos após a separação dos integrantes da banda, entretanto, ao longo dos capítulos, somos apresentados ao passado dos protagonistas e entendemos como eles formaram o grupo. A ferramenta narrativa foi impecavelmente articulada e casou muitíssimo bem com o desenrolar da trama, embalando o leitor na sensação nostálgica de "naquela época…". O fio narrativo intercalado entre momentos do passado e presente não te deixa ansioso pelo retorno da história central, pois todos os flashbacks valem cada segundo do seu tempo, lágrimas, raiva e alegria, você torce por Connor e Simon a todo momento. Menção especial ao fato do casal ser inter-racial e versátil, Juns dosou muito bem as cenas calientes!
Ainda que o casamento homoafetivo tenha sido legalizado no país, os crimes de ódio contra minorias sociais são muito comuns e tornam-se cada vez mais frequentes — o que infelizmente não está muito distante da nossa realidade. Em síntese, "Dark Heaven" trata de uma história sobre dois caras quebrados que se apaixonam em meio a uma sociedade homofóbica, religiosa, racista e demasiadamente cruel, não se concentrando apenas no desenvolvimento romântico deles, mas também no caos político-social que os cerca. É uma combinação agridoce de amor esperançoso e realidade obscura que, sinceramente, não precisou de muito esforço para conquistar o troféu de ouro como um dos melhores BL’s que já encontrei pelo mundo dos quadrinhos coreanos.

Não diga que eu não avisei: "Dark Heaven" não é de jeito nenhum uma leitura fácil para pessoas sensíveis, portanto, atente-se aos gatilhos! A abordagem crítica do enredo abre um leque de tópicos sérios como a xenofobia, vícios, crimes de ódio, prostituição, negligência policial, abuso e corrupção por trás da indústria do entretenimento, além das cenas sangrentas e violência todos os tipos. Juns-nim não “dramatizou” os podres da sociedade injusta em que vivemos, muito pelo contrário, esfrega hipocrisias na nossa cara e discute questões sociais com as quais apenas nos importamos quando somos pessoalmente afetados por elas. Vai te colocar em estado reflexivo por um bom tempo.
Não se deixe enganar pelo estilo de arte caricaturesco dos quadrinhos monocromáticos. Afirmo "Dark Heaven" como uma obra assustadoramente realista, madura e crua, ao passo que também possui momentos que prometem te deixar de coração quentinho. É uma montanha-russa de sentimentos tocantes, suspense e reviravoltas que estraçalharam todas as minhas expectativas, tanto que me obriguei a fazer pausas breves durante a leitura para absorver o rumo turbulento que a história estava seguindo, o que é incomum, pois estou longe de ser novata no gênero e me considero difícil de ser surpreendida.

O mundo não costuma ser muito gentil com aquilo que julgam como diferente, mas ainda existe uma faísca de esperança. As cicatrizes do passado interferem no futuro? O amor verdadeiro pode vencer as barreiras do preconceito sexual e racial? Só lendo "Dark Heaven" para descobrir.